A Arte Heráldica
A Arte Heráldica
é a arte que estuda a genealogia da família, seu brasão e significados.
No passado era
comum as famílias mais nobres fazerem como símbolo da hierarquia de sua
família, um brasão, que carregava de acordo com as cores e símbolos a
história e a importância hierárquica desta família.
Ela esteve ativa até o final do Século XVIII,
quando a febre política da República, um movimento novo que tomava conta
do mundo desde a Queda da Bastilha na França, extingüiu, por vezes a fio
de espadas, o Ofício de Brasonaria.
Muitos Mestres D'Armas foram
assassinados, famílias inteiras eram banidas por continuarem ostentando
seus Brasões nas soleiras de suas casas e Armoriais, livros que continham
os Registros Brasonários desde o século XII, foram queimados em praça
pública, tudo isso porque os republicanos temiam que através desses
simbolos o povo continuasse ligado à Monarquia ou até mesmo, reinvidicasse
a sua volta. Sob a constante
ameaça das lâminas republicanas foi fácil impedir que isso acontecesse.
Alguns clãs, no entanto, conseguiram fazer com que a Tradição da
Brasonária ficasse viva até os dias de hoje. Ocultaram os Armoriais em
seus porões, alguns foram embalados em baús de madeira tratada, ou de
louças e enterrados em suas Quintas. Outros, na clandestinidade,
conseguiram passar de Mestre para Discípulo e de pai para Filho a Arte da
Heráldica.
As Cores
A Heráldica tem o uso de
metais e esmaltes como padrão, atribuíndo a esses características
específicas:
Os Metais
Ouro: Representado por sua cor natural
(amarelo) ou, quando em Armoriais, por um campo branco salpicado de
negro.
Prata: Representado por sua cor natural
(branco) ou, quando em Armoriais, por um campo em branco.
Os
Esmaltes
Negro: Representado por um campo de
negro pleno ou, quando em Armorial por um campo quadriculado. O termo
heráldico para este esmalte é "Sable".
Vermelho:
Também chamado de "Gules" na heráldica, é representado por sua cor
vermelha ou por um campo passado de filetes em vertical
Azul: Representado por um campo de azul
pleno ou, quando em Armorial por um campo passado de filetes postos em
horizontal. O termo heráldico para este esmalte é "blue" ou
"Azure"
Verde: Representado por um campo de verde
pleno ou, quando em Armorial por um campo passado de filetes em banda. O
termo heráldico para este esmalte é
"Sinople"
Purpura: Representado por um campo de
lilás pleno ou, quando em Armorial por um campo passado de filetes em
contrabanda.
Vinho: Representado por um campo de
vermelho escuro pleno ou, quando em Armorial por um campo
fretado
Escarlate: Representado por um campo de
sua cor pleno ou, quando em Armorial por um campo passado de filetes na
horizontal sobrepostos de filetes em banda. O seu termo heráldico é
"Sanguine"
Marron: Representado por um campo de
sua cor pleno ou, quando em Armorial por um campo passado de filetes na
vertical sobrepostos de filetes em banda. O seu termo heráldico é "Tan" ou
"Marroon"
Laranja: É uma cor de rara utilização
na Heráldica Latina, sendo mais utilizada nos países de origem
Anglo-Saxonicas. quando em Armorial por um campo passado de filetes
entrecortados por pontos. O seu termo heráldico é "Orange"
Os Animais e outros
Símbolos
O Leão
O leão é
uma das figuras mais empregadas na heráldica, sendo encontrado nos brasões
de inúmeras famílias e nas armas de diversos países.
No campo do brasão
podem aparecer um ou mais leões, sendo que o número total não pode ser
superior a dezesseis.
Nos brasões
infamados, assim classificados pela prática condenável do seu dono, caso
exista a figura de um leão, este é representado desprovido de cauda e
dentes. As vezes o
leão aparece composto com outros animais, como a águia. Neste caso, passa
a chamar-se Grifo. Esta peça, com a parte superior de
águia e corpo de leão, é encontrada nos brasões de muitas
famílias. A presença do
leão no brasão de armas insinua força, grandeza, coragem, nobreza de
condição. Também caracteriza domínio e proteção, condições que deve ter um
superior sobre aqueles que domina.
Nos brasões
portugueses e espanhóis o leão representa, em muitos casos, aliança com a
casa real de Leão (Espanha) ou concessão por ela outorgada.
Outros Animais
Quadrúpedes
O
leopardo apresenta-se nos brasões da maneira chamada "passante", com a
pata dianteira erguida. A pantera também é representada passante, o tigre
correndo, o urso pode ser rompante (em posição de combate), passante ou
levantado. O lobo é representado andante, com a pata dianteira levantada.
É muito freqüente na armaria vasco-navarra, já que é insígnia da batalha
de Arnigorriaga. O
cavalo é representado marchando, o touro e a vaca parados ou andantes, e o
javali andante e de perfil. O coelho e a lebre podem aparecer passantes,
correndo, deitados ou como presa.
O Castelo
Os
castelos tiveram uma importância muito grande nos tempos medievais, pois
eram poderosos baluartes de defesa e residência de imperadores e reis. No
seu interior reuniam-se os exércitos, camponeses e vassalos, além dos
rebanhos e toda produção da terra, que ficava a salvo da cobiça dos
inimigos. Esses castelos tinham meios próprios de subsistência, visto que
muitas vezes eram assediados e cercados por longo tempo.
A figura do castelo,
por tais condições e por seu simbolismo, é muito empregada na heráldica,
obedecendo a determinados critérios para seu desenho. Uma regra geral, nem
sempre observada na prática, estabelece a composição entre metais e
esmaltes: se o castelo for desenhado com um esmalte (cor), as suas portas
devem ser de metal; quando o castelo é desenhado em ouro, as aberturas
(portas e janelas) deverão ser representadas em vermelho; se o castelo for
de prata, as aberturas devem ser representadas em preto.
O castelo não deve ser
confundido com a torre. O seu desenho deve apresentar-se rigorosamente em
um só bloco, com uma porta e duas janelas, o todo sobreposto por três
torres, geralmente com a do meio maior que as das laterais.
A presença do castelo
em um brasão de armas significa que o seu portador participou com destaque
em tomadas de assalto, ou despojos conquistados. Quando representado de
portas abertas indica sucesso na defesa ou
tomada. Tanto nos brasões
portugueses quanto nos espanhóis o castelo representa, muitas vezes,
aliança com a casa real de Castela. Nos brasões portugueses concedidos na
segunda dinastia, os castelos são alusivos a feitos de armas praticados no
ataque ou defesa de praças de guerra do norte da África e outras
conquistas. Os castelos sobre ondas representam feitos ligados a praças
marítimas. Finalmente,
se o castelo por representado em prata sobre um campo de azul, pode-se
afirmar que o seu possuidor era pessoa de grande virtude.
A Torre
A torre
tem seu desenho próprio, não devendo ser confundida com um castelo. A
palavra provém do latim "turre", é uma peça que se apresenta isolada e,
conforme o seu desenho, tem sua significação. A torre é parte de destaque
do castelo e geralmente é representada com uma porta e duas janelas. A
torre mais alta ou de maior proeminência do castelo é chamada de torre de
homenagem; quando aparece com três torres sobrepostas se diz donjonada;
quando podem ser notadas as janelas, esclarecida; quando aparece o teto,
coberta; quando tem a porta com grade e pontas na parte inferior, é
gradeada; quando a torre vem com chamas nas janelas e sobre as ameias ou
seteiras se diz ardente. A torre apresenta o seu corpo na forma
arredondada. Já o torreão constitui uma derivação da torre original, pois
a forma do seu corpo é quadrada ou retangular, com uma porta e quatro
ameias.
A
Flor-de-Lis
Na
heráldica a figura da flor-de-lis tem muita importância, não só porque
simboliza e fixa características ligadas à família, pessoas, locais, como
por ser uma peça constantemente encontrada nos brasões franceses, isto por
ter sido este o símbolo da sua monarquia.
A flor-de-lis é
símbolo de poder e soberania, assim como de pureza de corpo e alma,
candura e felicidade.
A origem do símbolo é
muito contravertida e o que se sabe é que seu surgimento não data de pouco
tempo. Sabe-se que foi usada nas armas da França em 496, na vitória de
Tolbiacum (Zulpich), onde os francos de Clodoveu, derrotaram os alemães e
coroaram-se de lírios. Seu desenho era colocado no manto de reis já na
época pré-cruzada, na indumentária de luxo dos reis de armas, nos
pavilhões, nas bandeiras e, ainda hoje, em vários brasões de municípios
franceses. Garcia IV,
rei de Navarra, que viveu pelo ano de 1048, passou a adotar o desenho como
símbolo de seu reinado, após ter visto uma imagem de Nossa Senhora
desenhada no fundo de um lírio e logo após ter se curado de uma grave
enfermidade. No ano de
1125, a bandeira da França apresentava o seu campo semeado de
flores-de-lis, o mesmo acontecendo com o seu brasão de armas até o reinado
de Carlos V (1364), quando estas passaram a ser apenas em número de três.
Este rei adotou oficialmente o símbolo como emblema, para honrar a
Santíssima Trindade.
Outros historiadores
relatam que antes disso o símbolo começou a ser utilizado no reinado de
Luiz VII, o Jovem (1147), e como emblema da cidade de Florença. Além
disto, aparece em numerosos brasões desde o século XII. Quanto a este rei,
foi ele o primeiro dos reis da França a servir-se desse desenho para selar
suas cartas patentes, principalmente devido à alusão ao seu nome Luiz, que
então se escrevia "Loys". Os reis Felipe Augusto e S. Luiz, conservaram o
lis como atributo real, o que seus descendentes perpetuaram.
Alguns heraldistas
afirmam que a flor-de-lis teve sua origem na flor-de-lótus do Egito,
outros que sua origem provém da alabarda ou lírio, um ferro de três pontas
que se colocava fincado nos fossos ou covas para espetar quem neles caísse
e também da flor do lírio ou da íris cuja semelhança é encontrada quando
as analisamos de perfil. Ainda outra possível origem é aventada, a que
seja uma cópia do desenho estampado em antigas moedas assírias e
muçulmanas. A
flor-de-lis deve ser representada por desenhos padronizados, jamais feitos
livremente. São brasonados ao natural, mas podem ter a cor de um esmalte
ou de um metal. Quando
acontece de um brasão ser carregado de flores-de-lis, o que é comum em
brasões franceses, se diz flordelizado e se a mesma aparecer cortada ou
sem pé, então deve ser dita de "pé morto"; quando a representação vier
acompanhada de dois botões ladeando uma pétala de maior tamanho, é
denominada flor-de-lis florentina. Como timbre não é comum, embora apareça
em alguns brasões. As
flores-de-lis são muito freqüentes nos brasões portugueses. Representam,
em geral, uma concessão dos reis da França, principalmente quando assentam
sobre campo azul, e só em casos raros representam parentesco ou aliança
com a Casa Real francesa.
A Cruz
Na
heráldica, a aplicação da cruz é muito ampla. Isto decorre principalmente
da enorme quantidade de formatos que a ela são dados na confecção dos
brasões. Além disto, há um vasto uso na heráldica religiosa, tumular e na
confecção de condecorações, bandeiras e insígnias. A correta definição de
cruz é a de uma figura formada por uma pala e uma faixa cruzadas, mas sem
continuidade entre elas.
Um dos formatos mais
primitivos da cruz foi usado pelos gregos e pelos egípcios há 5 mil anos e
tinha a forma de um "T" encimado por um anel, símbolo de divindade, e que
se chamava Cruz de Ankl.
A primeira vez que a
cruz foi oficializada como símbolo, neste caso de fé, aconteceu no reinado
de Constantino. Isto ocorreu devido ao imperador ter sido,
surpreendentemente, vencedor da batalha contra Mexêncio. Daí por diante,
na vanguarda do exército constantino, sempre era conduzido um estandarte
composto por uma cruz com a legenda "IN HOC SIGNO VINCES" (com este sinal
vencerás). O uso da cruz
como elemento de brasão de armas nasceu com as cruzadas. As grandes ordens
de Cavalaria como São João, dos Templários, de Calatrava, de Malta e
outras escolheram a cruz como seu símbolo. Os duques de Saboya trazem em
seu escudo uma cruz branca como lembrança de terem socorrido a Rhodes
contra os turcos. Muitas famílias da nobreza européia trazem a cruz em
seus escudos, como lembrança de terem tomado parte nas cruzadas. Os
contingentes das cruzadas de diferentes países distinguiam-se no uso da
cruz; os escoceses usavam a Cruz de Santo André; os ingleses, uma cruz de
ouro; os alemães, de negro, os italianos, de azul e os espanhóis de
vermelho, todavia, podem ocorrer variações em alguns brasões. Eduardo III
da Inglaterra, reinvindicando a Coroa da França, adotou a cruz vermelha
para seu exército em 1335 e a França, para evitar confusão, ficou com o
branco. Enfim, ainda hoje a Cruz Vermelha de São Jorge caracteriza a
Inglaterra, assim como, depois de outra mudança, a cruz branca caracteriza
a Itália. Portugal ficou caracterizado pela cruz azul que o conde de São
Henrique trouxe para a Terra Santa.
Na heráldica
portuguesa, desde 1459, encontra-se a cruz em muitos brasões. Quanto a
heráldica brasileira, muitas famílias apresentam a cruz sob várias
formas.
As Figuras
Quiméricas
As
chamadas figuras quiméricas surgiram da imaginação dos poetas e cantadores
da idade média, provavelmente inspirados pela mitologia fantástica da
antiguidade. O uso destas figuras na heráldica é muito antigo,
freqüentemente aparecendo nos brasões de família pelo simbolismo que podem
representar. Existem muitas figuras quiméricas, sendo abaixo relacionadas
algumas das principais:
Grifo – figura com cabeça e garra de leão, asas de
águia, orelha de cavalo, com barbatanas ao invés de crinas. Veja figuras 4
e 12. Licórnio ou
unicórnio – animal quimérico que tem forma de cavalo, cauda em
ponta e, no centro da testa, um chifre agudo, vindo daí seu nome. Esta
figura é muito utilizada na heráldica, fazendo parte de cimeiras,
ladeantes, nos escudos de armas e empregada como suportes do
brasão. Dragão
– nome que vem do latim "dracone" e do grego "dracon". Animal
fantástico com garras, cauda de serpente terminada em arpão e cabeça de
crocodilo. Este ser quimérico está ligado à figura de São Jorge, padroeiro
da Inglaterra, sendo também consagrado à Minerva, deusa da caça e da
sabedoria, e ao nome da Ordem chinesa do
Dragão. Esfinge
– é um animal com cabeça e busto de mulher, corpo de leão, asas
de águia, que entre os egipcios representava o sol. Esta figura foi
difundida pela lenda de Édipo.
Hidra –
figura quimérica, representada por uma serpente monstruosa com corpo de
dragão alado, com sete cabeças. De acordo com a lenda, habitava os campos
de Lerna, na Argólia. É evocada na lenda dos trabalhos de Hércules, que
conseguiu matá-la abatendo as suas sete cabeças de uma só
vez. Centauro
– monstro fabuloso, que tinha a parte superior do seu corpo de
homem e o restante de cavalo. Sua lenda é registrada nos frisos do
Partenon, na ilha grega de Creta, e conta o combate dos centauros nas
bodas de Piritoo, rei dos Lápidos. Este, auxiliado por Teseu e Hércules,
teria eliminado aqueles seres.
Hárpia –
figura de um monstro com rosto e pescoço de mulher e o resto do corpo de
um abutre, com unhas em forma de garras. Na heráldica é sempre apresentada
de frente e com asas distendidas.
Sereia –
outro ser fantástico, que tem a parte superior do corpo de mulher e o
restante de um peixe. Conforme a lenda, ela costumava cantar para seduzir
os pescadores e levá-los para o fundo do mar. É representada geralmente
com um espelho na mão direita e um pente na esquerda.
Fênix –
figura mitológica que habitava os confins do deserto da Arábia.
Tinha possibilidade de viver muitas dezenas de anos e, quando se sentia
morrer, fazia seu ninho com ervas e essências perfumadas, ficando ali
aninhada, deixando o sol incendiar tudo. Porém, acontecia que sempre
ressurgia das suas próprias cinzas.
Pégaso – é
o cavalo alado, surgido, segundo a lenda, do sangue de Medusa, no momento
em que Perseu lhe cortou a cabeça. Pégaso simboliza a inspiração e o gênio
da poesia. Quimera
– monstro com o corpo de um leão, cabeça de cabra e cauda de
dragão, soltando fogo pela boca. Hipógrifo – cavalo
alado, com meio corpo de grifo,
tendo as patas dianteiras em garras.
Medusa
– uma das Gorgonas, que tinha lindos cabelos, mas como tivesse
ofendido Minerva, a deusa da Sabedoria, teve os seus cabelos transformados
em serpentes, sendo depois a sua cabeça decepada por Perseu.
Os Ornamentos Externos: Elmo,
Timbre, Virol e Paquifes
O
elmo era uma das partes mais importantes da armadura dos
cavaleiros medievais, uma vez que, protegia a cabeça de golpes e pancadas,
que freqüentemente poderiam ser
fatais. Mas o elmo tem uma
importância especial para a heráldica, pois esteve entre as suas causas
fundamentais. De fato, foi a difusão do uso de elmos fechados, impedindo o
reconhecimento rápido de quem estava dentro da armadura, que forçou a
utilização de símbolos e cores identificadores nos escudos e, em última
análise, levou à criação de um sistema organizado e codificado de emblemas
individuais – a simbólica
heráldica. Sabe-se que os
guerreiros usaram capacetes ou alguma forma de proteção para a cabeça
desde a Idade do Bronze, e gregos e romanos fizeram desses capacetes a
parte mais importante e vistosa do seu equipamento. Mas só no século XII a
evolução das artes da guerra e da tecnologia militar levou à necessidade
da utilização de elmos fechados, como proteção contra as flechas dos
arqueiros, cada vez mais eficazes, e também contra os golpes das espadas,
machados e maças de armas. A
forma dos elmos registrou diversas evoluções e alterações, desde os mais
antigos, quase cilíndricos, apenas com uma fresta para os olhos, até aos
elmos de parada dos séculos XVIII e XIX, profusamente decorados e já
meramente ornamentais. O elmo heráldico clássico, porém, é o elmo de
torneio, de viseira articulada, aberta ou com grades, característico dos
séculos XV-XVI. Os elmos
foram, na verdade, fundamentais nos torneios e justas, e isto condicionou
em certa medida a sua própria evolução (bem como a das armaduras). A
violência do embate entre dois cavaleiros que procuravam derrubar-se
mutuamente com as lanças levou ao desenvolvimento dos elmos, os quais se
prolongaram até proteger totalmente o pescoço e descendo para os ombros de
forma a poderem fixar-se solidamente no tronco da armadura. É esta a
origem da forma mais divulgada do elmo heráldico. Por outro lado, quando
os torneios deixaram de se disputar com lanças e passaram a consistir
apenas num combate com maças de armas, o elmo deixou de precisar de ser
tão fechado na face e surgiram as viseiras de grades, cuja representação
heráldica, em certos países, é exclusiva da
nobreza. Foram ainda os
torneios que difundiram a utilização de figuras sobre os elmos, como forma
de facilitar o reconhecimento da identidade do cavaleiro e aumentar a sua
visibilidade pelos espectadores. Estas figuras eram, normalmente, uma das
peças pintadas no escudo, e originaram os timbres no
desenho heráldico. A sua riqueza decorativa é inegável, mas muitos brasões
ostentam timbres que seria fisicamente impossível colocar sobre um elmo,
ou que nenhum cavaleiro conseguiria equilibrar na
cabeça. Em rigor, o elmo
heráldico deve ter de altura a mesma medida que a largura do escudo, e o
timbre a mesma altura do escudo; mas raramente se encontram desenhados com
tal precisão. Na heráldica
portuguesa, o elmo é o principal distintivo da nobreza, papel ocupado
noutros países pela coroa. O elmo pode constituir uma peça móvel do
brasão, caso em que é normalmente representado cerrado e de perfil; mas a
função essencial do elmo na heráldica é figurar como ornato exterior do
escudo, colocado sobre o seu bordo superior. Quando o elmo tem a viseira
levantada, diz-se aberto e é colocado a três quartos; com a viseira
descida chama-se cerrado e põe-se de
perfil. Para a nobreza, o
elmo deve ser de prata. O elmo de ouro deve ser posto de frente e o seu
uso compete apenas aos reis, príncipes de sangue real e duques soberanos.
Embora em alguns casos surjam elmos postos de frente em brasões de nobres
titulares, tal prática não deve ser aceite. Alguns autores, contudo, não
reconhecem valor histórico às distinções nos elmos. Note-se que Jean du
Cros, no Livro do Armeiro-Mor (c. 1509), empregou elmos de prata e de ouro
sem um critério aparente (tal como, de resto, o fez depois António Godinho
no Livro da Nobreza e Perfeiçam das Armas); mas a regra heráldica, comum a
diversos países, é a da exclusividade do uso de elmo de ouro pelo
Rei. A posição normal do
elmo é assente sobre o topo do escudo, virado a três quartos para a
direita do mesmo. O elmo de frente, como vimos, é exclusivo do Rei; o elmo
voltado para a esquerda indica normalmente bastardia, mas é de uso
raríssimo. Igualmente rara hoje em dia, mas possível, é a representação do
elmo de perfil. O que nunca deve acontecer, em termos de desenho
heráldico, é o elmo ficar suspenso no ar, “flutuando” sobre o
escudo. O desenho do
elmo é completado pelo virol, a
Coroa do grau de Cavaleiro, e pelos
paquifes, uma plumagem que trazia sempre as cores da
família ou do clã ao qual pertencia o nobre.
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